quinta-feira, 4 de abril de 2013

FIGURAS DE LINGUAGEM NA BÍBLIA



Existem muitos erros grosseiros de interpretação da Bíblia que poderiam ser evitados se, antes de lê-la, o crente, além da iluminação essencial do Espírito Santo, aprendesse um pouco de uma ciência interpretativa chamada hermenêutica. a Bíblia é um livro antigo. Seu último livro, o Apocalipse, foi escrito há cerca de 2000 anos. Ela foi escrita por diversos homens, de culturas diversas, de línguas diferentes, em tempos diferentes, em situações diferentes, ainda que inspirados pelo mesmo Deus. Além de Palavra inspira, ela é um texto literário e deve ser lido também assim, levando-se em conta o abismo temporal, histórico, geográfico, cultural, linguístico e gramatical que nos separam dela.
Um dos fatores a serem observados na leitura do texto bíblico é sua enorme variedade de figuras de linguagem. Se não as compreendermos, poderemos dar interpretações erradas àquilo que seus autores escreveram e jamais conseguiremos entender o que de fato Deus está falando conosco. Dizer que o Espírito Santo irá revelar, pois assim está escrito, é conversa de crente preguiçoso e presunçoso. Esse é um pensamento bastante pentecostal, que espera incorporar o Espírito a interpretação da Palavra de Deus sem se dar ao árduo trabalho de lê-la, estudá-la, “comê-la”. Algumas igrejas pentecostais não estimulam a prática da leitura e do estudo sistemático da Bíblia, preferindo a osmose. Não é isso que a Bíblia promete. O crente precisa esmerar-se no estudo das Sagradas Escrituras, usando a hermenêutica para fazer uma exegese correta do texto bíblico.
Vamos aprender algumas figuras de linguagem que a Bíblia traz. Segundo Zuck (p. 174 a 188), a Bíblia utiliza inúmeras figuras de linguagem. Vejamos resumidamente:


·         Símile, uma comparação em que uma coisa lembra outra (ex. 1 Pedro 1:24; Lucas 10:3).
·         Metáfora, é uma comparação em que um elemento é, imita ou representa o outro (ex. Isaías 10:46; 1 Pedro 1:24; Jeremias 50:6; João 10:7,9).
·         Hipocatástese, faz uma comparação em que a semelhança é indicada diretamente (ex. Salmo 22:6; Filipenses 3:2; Atos 20:29;João 1:29).
·         Metonímia, consiste em substituir uma palavra por outra (ex. Jeremias 18:18; Salmo 18:1; 1 Coríntios 10:21).
·         Sinédoque, é a substituição da parte pelo todo, ou do todo pela parte (ex. Lucas 2:1; Provérbios 1:16; Romanos 1:16).
·         Merisma, tipo de sinédoque em que a totalidade ou o todo é substituído por duas partes constantes ou opostas (ex. Salmo 139:2).
·         Hendíade, que consiste na substituição de um único conceito por dois termos coordenados, em que um dos elementos define o outro (ex. Filipenses 2:17; Atos 1:25).
·         Personificação, quando ocorre a atribuição de características ou ações humanas a objetos inanimados, a conceitos ou a animais (ex. Isaías 35:1; 55:12; Romanos 6:9; 1 Coríntios 15:55).
·         Antropomorfismo, atribuição das qualidades ou ações humanas a Deus (ex. Salmo 8:3; 31:2; 2 Crônicas 16:9).
·         Antropopatia, a atribuição de emoções humanas a Deus (Zacarias 8:2).
·         Zoomorfismo, atribui características animais a Deus (ex. Salmo 91:4; Jó 16:9).
·         Apóstrofe, referência a um objeto como se fosse pessoa, ou a alguém ausente ou imaginário como se estivesse presente (ex. Salmo 114:5; Miqueias 1:2; Salmo 6:8).
·         Eufemismo, substituição de uma expressão desagradável por uma mais suave (ex. Atos 7:60; 1 Tessalonicenses 4:13-15).
·         Elipse, omissão de uma ou mais palavras, cuja falta deixa a estrutura gramatical incompleta (ex. 1 Coríntios 15:5; 2 Timóteo 4:18).
·         Zeugma, associação de dois substantivos a um mesmo verbo, quando pela lógica o verbo só pede um substantivo (ex. Lucas 1:64).
·         Reticência, quando o discurso é interrompido repentinamente como se já tivesse podido terminá-lo (Êxodo 32:2; Efésios 3:1,2; Lucas 19:42).
·         Pergunta retórica, é uma pergunta que não exige resposta, de modo a forçar o leitor a respondê-la por si só (Gênesis 18:14; Jeremias 32:27; Mateus 26:55.
·         Hipérbole, afirmação exagerada para dar ênfase, dizendo mais do que o significado literal (ex. Deuteronômio 1:28; Salmo 66:6; 1 Samuel 18:7).
·         Litotes, uma frase suavizada ou negativa para expressar uma afirmação (ex. Atos 21:39; 19:24).
·         Ironia, uma forma de ridicularizar ironicamente sob a forma de elogio (ex. 2 Samuel 6:20; 1 Reis 18:27; Marcos 7:9).
·         Pleonasmo, repetição ou acréscimo de palavras que acabam por soar redundantes (ex. Jó 42:5; Atos 2:30; Mateus 2:10).
·         Oxímoro, combinação de termos opostos ou contraditórios (ex. Atos 2:24; Filipenses 3:19; Romanos 12:1).
·         Paradoxo, afirmação aparentemente absurda ou contraditória (ex. Marcos 8:35.
·         Paronomásia, emprego  das mesmas palavras ou de palavras com sons semelhantes com o fim de produzir sentidos diferentes (ex. Mateus 8:22; Miqueias 1:10-15; Lucas 21:11. Obs.: a compreensão da paronomásia no texto bíblico só é possível de maneira correta através das línguas originais em que o texto foi escrito).
·         Onomatopeia, é uma palavra cuja pronúncia imita o som da coisa significada (ex. Jó 9:26; Jeremias 10:1,10; Salmo 114:5. Obs.: mesma aplicação das palavras paronomásias).

  
      ZUCK, Roy B. A interpretação da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1994.

Além do livro de Zuck, gostaria de sugerir outros três livros excelentes sobre hermenêutica que não devem faltar na biblioteca do crente:

FEE, Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que lês? Um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. São Paulo: Vida Nova, 2009.

LUND, E.; NELSON, P. C. Hermenêutica: princípios de interpretação das Sagradas Escrituras. São Paulo: Vida, 2007.

VIKLER, Henry. Hermenêutica avançada: princípios e processos de interpretação da Bíblia. São Paulo: Vida, 2001.

      Além desses livros, tenha sempre:

·         um bom dicionário de teologia;
·         a Bíblia Shedd, que é uma excelente Bíblia de estudos;
·         o Novo Testamento Interlinear, grego e português, da Sociedade Bíblica do Brasil;
·         um bom livro de teologia sistemática; recomendo o de Charles Hodge, da editora Hagnos;
·         o livro Chave linguística do Novo Testamento grego,  da editora Vida Nova;
·         uma concordância bíblica.


No mais: joelho no chão, muita oração, muita fé e humildade diante da Palavra de Deus.


Mizael de Souza Xavier

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