sábado, 23 de março de 2013

LIDERANDO OS PROBLEMAS - sobre liderança cristã



Por quê?

         As circunstâncias normalmente vêm travestidas de problemas. Para ter problemas, basta-nos estar vivos. Jesus enfrentou muitos problemas durante o seu ministério, como incompreensão, perseguição e a falta de fé de seus discípulos. Ele teve de passar pela experiência do deserto, foi traído por Judas e até mesmo Pedro o negou depois de sua declaração de que jamais o abandonaria. Paulo também passou por inúmeros problemas em seu ministério, mas isso não o impediu de se tornar o maior missionário que se tem conhecimento na História do cristianismo. O problema dos pregos perfurando a sua carne não representou obstáculo ao sacrifício de Cristo.
         Quando os problemas surgem, temos a tendência de nos desesperar e fazer de tudo para nos livrar deles. A nossa primeira pergunta é: “Por quê?”. Mas essa pergunta não é feita no sentido de tentar compreender a lição que o problema pode estar querendo nos passar, mas reflete a nossa indignação e a nossa insatisfação diante daquilo que estamos vivendo. Por não encontrar uma explicação que nos satisfaça, ou por não querer reconhecer que o motivo do problema pode estar em nós mesmos, tendemos a erguer as nossas mãos para os céus e gritar: “Meu Deus, o que foi que eu fiz para merecer isso?”.
         Sempre que algo sai errado conosco, sempre que a desgraça bate a nossa porta – a perda repentina do emprego, a morte inesperada de um parente, uma doença incurável, etc. – tendemos a colocar sobre Deus a culpa. Foi isso que aconteceu com os discípulos de Jesus. Estando em Jerusalém, eles se depararam com um cego de nascença. A sua pergunta para Jesus foi: “Mestre, quem pecou, este ou sés pais, para que nascesse cego?” (João 9:2,3). Da mesma forma, quando nos encontramos em aperto, estamos sempre questionando o agir de Deus na nossa vida, culpando-o pelas nossas crises.
         Todavia, os problemas não fazem parte de um plano maquiavélico de Deus para nos punir pelos nossos pecados. Se nós estamos sofrendo por causa do pecado, este sofrimento é apenas uma consequência natural do nosso erro. A Palavra de Deus nos exorta a não sofrer por fazer aquilo que é errado (1 Pedro 4:15). Portanto, Deus jamais será o culpado pelos nossos erros.
         Ao perguntarmos “Por quê?”, a nossa motivação deve ser a de compreender as causas que nos levam a sofrer para que possamos buscar as melhores soluções, mesmo que a causa sejamos nós mesmos. Mas pode ser que os nossos problemas não estejam acontecendo como uma consequência de algo, mas com um propósito de Deus.


Para quê?

Antes de acusar a Deus e nos perguntar “por quê?”, deveríamos nos perguntar: “Para quê?” O que poderemos ganhar com essa situação? Que lição que este problema poderá nos trazer para nos tornar mais fortes e mais maduros? E foi justamente essa a proposição de Jesus à pergunta dos discípulos: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.” (João 9:3). Enquanto os discípulos enxergavam naquele problema uma punição divina, Jesus encontrou ali uma oportunidade para Deus ser glorificado.
Quantos de nós conseguimos enxergar nos nossos problemas, mesmo os mais atordoantes, uma oportunidade para que as obras do Senhor se manifestem na nossa vida? A teologia da prosperidade nos ensina que somos vencedores à medida que somos abençoados financeiramente; que somos amados e cuidados por Deus à medida que nossos negócios prosperam; que estamos na graça à medida que temos rios de bênçãos para contar de casamentos perfeitos e relacionamentos impecáveis. Se por acaso algo vai mal, ou se por ventura adoecemos, a culpa é do nosso pecado, nossa falta de fé e do maligno, o “devorador de bênçãos”.
O motivo do nosso sofrimento pode ser algo que Deus deseja nos ensinar. Mas nós só enxergamos a glória de Deus brilhando na nossa vida quando tudo vai bem. Mas quando simplesmente tentamos nos livrar dos nossos problemas, estamos jogando fora preciosas chances de aprendizado e crescimento. Ao invés disso, deveríamos quebrar com tudo aquilo que nos impede de enfrentar os nossos problemas e vencê-los: o comodismo, a tradição, a nossa visão míope da realidade, nossos valores errados, nossas “muletas” espirituais e psicológicas.
Como Jesus foi aperfeiçoado? Como Ele aprendeu a obediência? A resposta é apenas uma: “... embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.” (Hebreus 5:8,9). Quando enxergamos os nossos problemas como parte de um propósito maior de Deus para nós, podemos estar seguros dos inúmeros e eternos benefícios que eles nos trarão. A cura do cego de nascença nos mostra que Deus tem coisas para nós superiores às nossas próprias expectativas. Ele quer mostrar algo além da nossa compreensão e que a nossa visão limitada nos impede de vislumbrar.


A construção do caráter

         Está claro nas Escrituras que um dos maiores propósitos do sofrimento é aperfeiçoar o nosso caráter. Palavras como crescimento, amadurecimento, santificação, perfeição andam de mãos dadas com provação, tentação, tribulação, apuração. É impossível extrair beleza e brilho de um diamante bruto sem que ele passe pelo duro processo de lapidação. Da mesma forma, o ouro que é encontrado na natureza, só irá reluzir após passar pelo fogo. Deus deseja tirar o melhor de nós, e para isso precisa nos limpar de nossas impurezas, nos lapidar e apurar.
         Os nossos problemas podem ser encarados como um contrapeso ao nosso caráter imperfeito, destinando-se a nos tornar novamente à imagem e semelhança de Deus. Paulo passou por essa experiência de contrapeso quando teve a oportunidade de ser arrebatado ao mais alto céu. Aquela experiência poderia representar para ele motivo de orgulho, de modo que ele viesse a se gabar de tudo que viu e ouviu. Mas Deus providenciou um contrapeso, um espinho na carne, mensageiro de Satanás para colocá-lo em seu devido lugar e barrar a sua soberba (2 Coríntios 12:1-10).
          As nossas limitações são colocadas por Deus para que não ultrapassemos os seus limites. Mas existem aquelas limitações que nós mesmos nos impomos, pelo nosso pecado e nossa falta de fé. Quando limitamos a nós mesmos, estamos impedindo o mover de Deus em nós. Mas quando ultrapassamos aqueles limites impostos por Ele, incorremos no mesmo erro de Adão e Eva. Se não aceitamos que os problemas são parte natural da maturidade cristã, jamais poderemos crescer, jamais poderemos aceitar a correção de Deus.
         Olhando para a situação de Paulo, podemos meditar sobre a frase que muitos cristãos amam repetir: “Deus tem um plano na minha vida”. Mas quantos admitem que esse plano pode envolver passar pelo sofrimento? O espinho da carne de Paulo não foi conseqüência de pecado, mas algo planejado por Deus. Deus tinha um plano na vida dele e esse espinho fazia parte desse plano. Pode ser que os planos de Deus para nós envolvam disciplina, quebra de barreiras emocionais, arrependimento, restauração, e tudo isso envolve sacrifício, envolve luta, envolve abrir mão de muitas coisas que amamos e valorizamos. Isso traz sofrimento.
A nossa fé ingênua nos leva a crer que o simples fato de termos o Espírito Santo e confiar na sua poderosa ação já nos garante uma vida vitoriosa, sem sofrimento, sem pecado. Mas Deus quer ver a nossa parte, os nossos esforços. Lucas deixa claro que entrar pela porta certa requer esforço da nossa parte (Lucas 13:24). Porém, a porta larga não requer esforço algum, basta apenas entrar, pois o seu caminho é espaçoso. Na porta estreita não podemos entrar carregando o fardo do nosso pecado, na porta larga, sim. Mas esta porta tão espaçosa nos conduz à perdição! Muitos crentes estão errando de porta.
Com certeza Deus tinha planos maravilhosos na vida de todos os seus discípulos, a começar por Estêvão. Viveu Estevão regaladamente, usufruindo dos maravilhosos planos de Deus? Podemos conferir a resposta em Atos 7:54-60. Estêvão, que esperava em Deus, contemplou a Sua glória antes de morrer. E o que Judas, que buscava apenas os seus próprios interesses, contemplou antes de morrer senão a sua própria derrota? O caráter dos líderes de Deus é forjado no fogo da batalha. Quem passa pela prova, recebe o galardão; mas aquele que nem pensa em enfrentar o fogo, recebe a derrota e a vergonha.


Enfrentando os leões

         Assim como Estêvão, a grande maioria dos discípulos de Jesus sofreu todo tipo de perseguição e martírio: Pedro, Barnabé, Paulo, Silas e tantos outros milhares após eles tiveram de enfrentar muitas dores por causa do Evangelho. Ainda hoje muitos missionários estão sendo ferozmente assassinados nos países comunistas e de religião islâmica. Mas nós, aqueles que não se arriscam tanto pela pregação da Palavra, nos incomodamos com os problemas mais simples, com a tribulação mais branda, com a adversidade mais tranquila.
         Uma história que adoramos ao falar dos nossos problemas é aquela em que Daniel foi lançado na cova dos leões e o modo assombroso como Deus o livrou (Daniel 6). “Ele livra, e salva, e faz sinais e maravilhas no céu e na terra; foi ele quem livrou a Daniel do poder dos leões”. (v. 27). Mas por que não mencionamos outros fatos referentes a história do cristianismo envolvendo essas temíveis feras? Nos primórdios da igreja, os cristãos eram perseguidos e lançados na arena do Coliseu para serem comidos pelos leões, enquanto o povo aplaudia eufórico. Mas durante o martírio eles não gritavam, não lamentavam, não murmuravam. Os relatos históricos nos contam que os cristãos lançados aos leões – tal qual Daniel – louvavam a Deus enquanto eram despedaçados pelas feras, a ponto de o imperador tapar os ouvidos para não ouvi-los cantar.
         Queremos que Deus nos livre da cova dos leões, que abra para nós o mar vermelho de nossa existência, que coloque uma coluna de fogo para nos guiar pelo deserto, que esteja conosco dentro da fornalha. Mas não queremos louvá-lo enquanto os leões nos devoram, enquanto o deserto fica cada dia mais escaldante e o fogo nos consome. “Se diante de mim não se abrir o mar, Deus vai me fazer andar por sobre as águas”, diz uma canção. Mas e se Ele não fizer? E se o desejo de Deus for que enfrentemos a fúria do mar? Será que só vamos romper em fé se nossos problemas foram logo solucionados? Em meio a dor não podemos romper em fé, mesmo que a dor jamais acabe? Se for assim, que consolo daremos a um paciente terminal de câncer?


O problema é uma realidade

         A Palavra de Deus nos dá lições sobre levar as cargas uns dos outros (Gálatas 6:2), sobre o fardo que cada uma tem de carregar (Gálatas 6:5), sobre a cruz que nos cabe tomar para seguir a Cristo (Lucas 9:23), sobre as aflições que passaremos neste mundo (João 16:33). Deus não nos ensina a nos livrar dos nossos problemas, do nosso fardo, mas a carregá-los e compartilhá-los com os dos outros. Os problemas muitas vezes nos trazem ansiedade, e é justamente isso que o Senhor quer tratar: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” (1 Pedro 5:6,7), e: “Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.” (Mateus 6:34).
         Não há como negar a realidade sempre presente do fardo, da cruz e das aflições que recaem sobre nós. A maioria dos grandes homens e mulheres da história do cristianismo foi forjada na dor, na falta de tudo, no preconceito, no abandono, na incompreensão, na doença, no risco sempre iminente de morte. Se olharmos para a História de José, de Moisés, de Daniel e tantos outros personagens bíblicos confirmaremos essa verdade. A maioria das epístolas de Paulo foi escrita da prisão. Pedro escreveu o seu Apocalipse quando estava preso na ilha de Patmos. Jesus selou o destino da humanidade enquanto agonizava na cruz. Porque nós desprezaríamos o sofrimento?
         Receber os louros da vitória é prazeroso; ter a sua pessoa e o seu trabalho reconhecido trazem satisfação e motivo de orgulho. Mas nem todos querem passar pelo processo do sofrimento para conseguir isso. A maioria de nós, principalmente se estamos numa posição de liderança, quer vencer com o mínimo de luta possível, porque nos ensinaram que sofrimento é sinônimo de falta de fé, de derrota, de pecado. Então Jesus não tinha fé? Paulo foi um homem derrotado? Certo dia conversei com um irmão que realmente acreditava que o motivo da doença em um crente era a sua falta de fé.
         O líder segundo a vontade de Deus precisa viver plenamente a realidade deste versículo: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.” (Tiago 1:2-4). A provação da fé é que produz a perfeição, o pleno desenvolvimento. Queimar etapas, abrir mão dessa provação e impedir que ela tenha ação completa sobre a sua vida, produzirá no líder um caráter deficiente e inconsistente, muito diferente do ideal de Jesus (Gálatas 6:16; Filipenses 3:3).
         Não devemos nos esquecer do clima de perseguição em que foi escrita a primeira epístola de Pedro. Naquela época os cristãos haviam sido dispersos e eram odiados, tendo de se esconder nos túmulos para cultuar a Deus, caso contrário virariam comida dos leões para divertir os romanos. O incêndio de Roma, provocado por Nero, foi atribuído aos cristãos, o que aumentou ainda mais a perseguição. E nessa atmosfera o apóstolo Pedro escreve aos cristãos perseguidos: “ Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações..”(1:6). Embora perseguidos, eles tinham a certeza de serem os eleitos de Deus santificados pelo Espírito Santo (1:2), regenerados para uma viva esperança (1:3), uma herança incorruptível nos céus (1:4). Eles eram guardados pelo poder de Deus (1:5) e isso era motivo de grande alegria, mesmo diante da tristeza da tribulação.
         Pior do que ter fardos pesados nas costas para carregar é não ter fardo algum, é viver uma vida cristã ociosa, inoperante e estagnada. A falta de problemas, de lutas e angústias pode significar falta de ação, de atitude. Nós nos acomodamos em nossa vida normal para não termos de enfrentar barreiras. Enquanto estamos quietos no nosso canto, a tendência para o sofrimento parece ser menor. Triste ilusão. Não existe arco-íris sem tempestade ou colheita sem semeadura. Só seremos consolados se chorarmos, só seremos fartos de justiça se ansiarmos por ela, só veremos o reino de Deus se formos perseguidos por causa dele (Mateus 5:1-12).


O real problema do problema

         Como já dissemos, basta estar vivo para o crente ter problemas. Todos adoramos a frase: “Deus faz chover sobre justos e injustos” (Mateus 5:45). Mas e quando essa chuva traz uma enchente que leva a casa de ambos? O problema não é ter problema, o problema não é nem mesmo o problema em si, mas a forma como lidamos com ele, a nossa reação às circunstâncias e situações difíceis que se apresentam diante de nós, ou mesmo nos rodeando por todos os lados.
         John C. Maxwell nos fala de um estudo realizada com 300 pessoas altamente qualificadas, pessoas que muitos não dariam, e não deram, nada por elas, mas que superaram os seu problemas e foram grandes empreendedores, artistas, líderes políticos e religiosos. Entre eles se destacam: Franklin Delano Roosevelt, Helen Keller, Winston Churchill, Albert Schweitzer, Mahatma Gandhi e Albert Einstein. Poderíamos acrescentar a essa lista Aleijadinho, Tiradentes e tantos outros personagens da nossa História.
Mas o que de extraordinário aconteceu na vida dessas pessoas que as levou tão alto? O segredo é que elas não se conformaram com os problemas, com as suas limitações, com as limitações que a sociedade tentava impor sobre elas. Não se sentiram frustradas ou derrotadas, não permitiram que aquelas situações determinassem as sua vidas. Elas foram maiores! O que dizer de nós que não lutamos com nossa força humana e limitada, mas no poder de Deus? O que dizer daquele que é comissionado por Deus e enviado para a sua obra? Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Romanos 8:31).
É a forma como encaramos os nossos problemas que decidirão nossa vitória ou nossa derrota. Os problemas são aquelas pedras que podemos permitir que barrem o nosso caminho ou podemos usá-las como degraus para a nossa subida. O próprio Jesus, que é descrito como pedra pode se tornar dois tipos de pedra, dependendo de quem estiver avaliando. Ele pode ser a pedra angular para aqueles que nele creem (Mateus 21:42; Atos 4:11; Efésios 2:20; 1 Pedro 2:4), ou pedra de tropeço e rocha de escândalo para os que permanecem descrentes (Romanos 9:32; 1 Pedro 2:6-8). O próprio Evangelho, que é a solução para todos os problemas da humanidade, pode significar destruição (1 Coríntios 1:18-25). É tudo uma questão de ponto de vista.
Nossas escolhas é que determinam as nossas atitudes diante das circunstâncias problemáticas. Os problemas podem determinar o nosso curso de ação, mas não podem determinar a nossa vida. Eles devem existir por nossa causa, e não nós por causa deles. Em outras palavras, devemos controlar os problemas e não ser controlados por eles. Se permitirmos que os nossos problemas nos controlem, certamente desanimaremos; mas se controlamos o que está a nossa volta, com oração e dependendo sempre de Deus, veremos que as circunstâncias podem ser transformadas e que os problemas podem se transformar em soluções.

  
Em busca de solução

         Na busca pela solução para os problemas é preciso saber primeiro quais os problemas que requerem solução. Às vezes nos debatemos de um lado para outro, tentando resolver a nossa vida sem tentar entender ou aceitar qual o real problema que está merecendo a nossa atenção, direcionando nossos esforços para os lugares e as causas erradas.
         A conversão, por exemplo, serve para por fim a um problema: o pecado e a morte. O desejo de Deus é que todos nós nos arrependamos porque estamos destituídos da sua glória e nos convertamos para alcançarmos a salvação pela sua graça. Entretanto, muitas pessoas se convertem para resolver outros problemas: ter prosperidade profissional e financeira, não ter mais tribulações, não ficar mais doente, participar de um grupo que as ama, ficar perto de alguém que pretendem namorar. Mas conforme o tempo vai passando, elas descobrem que nada muda, o dinheiro não vem, o sucesso não aparece e a doença e a tribulação não desaparecem.
         Como poderemos implementar uma mudança na nossa vida se não sabemos o que realmente precisa ser mudado? Como encontraremos a melhor solução para os nossos problemas se não temos certeza de qual é realmente o “x” da questão? Se as pessoas estão acostumadas a se atrasar para o culto, será que a solução é começar o culto mais tarde? Certamente não, pois as pessoas passarão a chegar ainda mais tarde. Sempre que tentamos resolver os problemas superficialmente, tendemos a esconder a verdadeira realidade. O que nos motiva a isso, na verdade, é a nossa incapacidade de admitir que estamos passando por dificuldades.
Mas será que todos os problemas têm uma solução? Pode ser que sim, mas também pode ser que não. Existem problemas que são fatos da vida que precisamos aprender a conviver com eles da melhor maneira possível. Uma pessoa cega de nascença, por exemplo, pode ter um problema irreversível, isto é, terá de conviver para sempre com a sua cegueira. Existem fatos que o líder precisa aceitar, fatos que não podem ser mudados e que pedem uma nova mentalidade, uma forma de trabalhar construtiva e eficaz.
A habilidade do líder está em reconhecer os problemas quando eles surgem e solucioná-los de maneira rápida e eficaz. O líder proativo, antes de implementar a visão, cerca-se de todas as informações dos possíveis problemas que possam ocorrer em todos os níveis do ministério e da ação, antecipando a busca pelas melhores soluções. Se existe algum problema que jamais poderá ser resolvido, a sua habilidade de líder o levará a planejar as formas de implementar a visão, independente do problema.

A cooperação na identificação e na solução dos problemas

         Quando estamos adoentados, com dor de cabeça e com febre, a nossa primeira atitude é a de buscar auxílio na automedicação, abusando dos antibióticos para aliviar o nosso mal estar. Mas o que estamos fazendo é apenas aliviar os sintomas ao invés de tratar o problema principal, a doença por detrás desses sintomas.
Ouvi a história de uma menina que ninguém gostava dela porque ela chorava demais. Achavam-na muito chata e quase ninguém queria ficar com ela. Certo dia, sua mãe a estava olhando brincar quando observou que ela pegava um brinquedo e o aproximava muito dos olhos para enxergar. Ao notar isso, essa mãe levou a menina até o médico e foi constatado que ela tinha um temor no cérebro. Enquanto observavam os aspectos exteriores daquela menina, seu choro constante e irritação, todos negligenciaram o fato de que algo mais profundo poderia estar causando tudo isso.
Dessa mesma forma tendemos a agir com os nossos problemas particulares e com aqueles que aparecem no nosso ministério. Tentamos resolver os seus sintomas ao invés de focarmo-nos nas suas reais causas. Murmuramos demais e não agimos. Mas qual é o real problema? Se não conseguirmos responder a esta pergunta, estaremos nos esforçando inutilmente. Quando conseguimos definir qual o nosso problema, as soluções aparecerão com mais facilidade.
Mas essa identificação do problema e a busca por soluções não devem partir de uma única perspectiva quando envolver todo um grupo. Mesmo nos nossos problemas individuais precisamos aplicar esta realidade. É importante uma reunião de várias informações discutidas e coletadas a fim de descobrir a melhor solução possível. Muitos líderes tendem a querer impor as suas soluções para os problemas que surgem no ministério. Eles se esquecem que essas soluções são parte de um ponto de vista pessoal deles, baseados na sua perspectiva pessoal do problema. Pode ser que estejam errados. Pode ser que estejam aumentando o problema ou tentando resolvê-lo perifericamente, sem dar muita importância às suas causas centrais. Pode ser que nem saibam realmente qual o problema.
Eis a importância do trabalho em equipe, onde várias cabeças pensam melhor que uma. Deus nos dotou de dons e talentos para serem usados, jamais desprezados ou relegados a segundo plano. Nestes momentos não podemos nos limitar, mas agir como o verdadeiro corpo de Cristo. Ele é a cabeça do corpo, o Cristo ressuscitado, revestido de poder, glória e majestade. Ele bem poderia agir sozinho na sua igreja, sem depender da boa vontade dos crentes que nem sempre estão dispostos a cooperar. Mas Jesus quer ter um corpo para agir na história humana, quer que cada membro tenha a sua função específica e trabalhe conjuntamente em benefício de todo o corpo. Quando um membro do corpo está mal, todos sofrem com ele; quando ele é restaurado, o corpo todo sente o bem-estar que isso traz.
Da mesma forma deve proceder o líder. Ele não deve trabalhar sozinho, não deve buscar sozinho a solução para todos os problemas. É preciso se envolver com o corpo, interagir com ele, conhecê-lo profundamente. Esse envolvimento o ajudará a reconhecer e antecipar os possíveis problemas, podendo efetivar uma solução mais rápida e eficaz. Conhecendo cada membro do corpo, seus dons e talentos, o líder saberá com quem poderá contar e de que forma ele atuará na solução do problema.
Após identificar o problema e a sua verdadeira causa, o líder deverá buscar, com a cooperação de todos os seus colaboradores, as melhores soluções e implementá-las. É importante saber que um mesmo problema pode apresentar várias soluções, e essas soluções mudarão de acordo com a evolução do problema. Logo, quando mais cedo o problema for resolvido, melhor. A procrastinação é um mal que precisa ser extirpado do meio do povo de Deus, pois denota irresponsabilidade e irreverência com relação a oba do Senhor.
A solução (ou soluções) encontrada deve ser aquela com a maior chance de sucesso, que realmente preencha os interesses do Reino de Deus e não da vontade humana. Muitas vezes achamos que sabemos a solução, mas ela nem sempre é a ideal do ponto de vista de Deus. Não basta ter ideias brilhantes para solucionar os nossos problemas, é preciso a atitude correta de implementar essas ideias.
Durante a solução dos problemas, todos os esforços dos membros do grupo estarão canalizados para esse fim, possibilitando o desenvolvimento das habilidades de cada um, do seu dom e talentos. Por fim, todos serão responsáveis pelo sucesso das mudanças que forem implementadas. É necessário, porém, haver uma constante avaliação para saber se as soluções apresentadas estão surtindo o efeito esperado ou se será necessário novas soluções, refazendo todo o processo.
Muito cuidado! Embora Deus nos tenha enchido de dons, nos dado talentos e capacidades naturais, todas as soluções para os nossos problemas devem ser buscadas a base de muita oração. O que estamos buscando é a glorificação de Deus e só Ele é capaz de fazer o melhor para a sua obra. Nós atuamos apenas como seus instrumentos, suas ferramentas. Uma solução precipitada pode ser a solução errada e acrescentar outro problema ao que já existia ou agravá-lo.
Ouro cuidado a ser observado pelo líder é o de não criar pessoas dependentes dele para a solução dos seus problemas. Existem crentes que não sabem dar um passo sem a presença do líder, que não conseguem tomar decisão alguma para o seu ministério, mesmo as mais simples, se o líder não estive por perto. Quando delegamos autoridade aos nossos colaboradores, estamos certos de estar contando com pessoas responsáveis e capacitadas, capazes de tomar decisões. Existem aqueles problemas que precisam da participação de todos, mas existem aqueles que podem ser resolvidos mais facilmente.
Líderes e colaboradores precisam ser estimulados a buscar soluções para os seus próprios problemas, acima de tudo os pessoais. A igreja atua como corpo, usando os seus dons para exortar, aconselhar, contribuir, exercer a misericórdia, mas não há como criar uma dependência doentia, onde o indivíduo é incapaz de cuidar de si mesmo, como uma eterna criança de peito que depende da mãe para absolutamente tudo.

A solução está nas pessoas

         Quem faz o tamanho do problema somos nós, nossa capacidade de enxergá-los grandes (pessimismo) ou pequenos demais (negligência) e a nossa disposição para solucioná-los. Maxwell afirmou que: “Nosso foco como líder deve ser estruturar uma pessoa para que seja maior que seus problemas. Esse tipo de pessoa lida com grandes questões de forma eficaz.” (pg. 101). Quanto mais nos assenhorearmos dos nossos problemas, menos seremos controlados por eles e poderemos encontrar grandes soluções.
         Com já vimos, o problema não está no problema, mas na forma como o enxergamos e lidamos com ele. Estamos mais acostumados a tentar desesperadamente buscar soluções paliativas para os nossos problemas e esquecemo-nos de lidar conosco, nosso interior, com a visão que temos e que alimenta as nossas escolhas e forjam as nossas atitudes. Logo, se o problema é a nossa reação a ele, devemos mudar a nós mesmos. Mudando nossa maneira de agir frente aos problemas, um grande passo terá sido dado na busca por soluções reais e estratégicas.
         O líder deve dedicar a maior parte do tempo às pessoas, pois elas são a razão da sua existência. Os seus colaboradores devem ser estimulados a pensar sobre os seus próprios problemas, a entendê-los profundamente e compreender a sua reação a eles. Mas o líder não deve se deixar envolver de tal forma que acabe por resolver os problemas dos outros, impedindo que eles ajam, que aprendam, ma s atuar como um coordenador, um facilitador na busca por soluções.
         Com relação aos problemas que dizem respeito ao ministério e não apenas a uma pessoa apenas, o mesmo fator deve ser levado em conta. Se algo vai mal não devemos nos concentrar nisso, mas nos motivos que ocasionaram esse mal. A nossa atitude diante dos problemas do ministério deve ser a mesma quando encaramos nossos próprios problemas. A igreja precisa aprender a lidar com os seus problemas dessa forma, encarando a realidade como ela é, procurando entender o que se passa num nível mais profundo ao invés de se preocupar com aquilo que é superficial.
         A igreja de Corinto era uma comunidade que não estava sabendo lidar com os seus problemas, por isso não encontrava uma solução. E se não encontrava, certamente era porque nem sequer a buscava. Podemos ver na epístola de Paulo a sua indignação frente a muitos problemas enfrentados por aquela igreja. Mas alguns pontos nos mostram como aqueles irmãos lidavam com isso:
·         Eles não reconheciam os seus problemas como sendo de fato problemas. Havia imoralidade, sensualidade, soberba, falta de comunhão, mau uso dos dons espirituais, mas eles não viam isso como sendo algo que precisava ser tratado.
·         Eles eram incapazes de resolver sozinhos os seus problemas ao ponto de irmão levar irmão a juízo perante os injustos (1 Coríntios 6:1).
·         Eles não olhavam para dentro de si para reconhecer que o problema real estava dentro deles.

Os erros dos coríntios eram uma ameaça a sua sobrevivência como igreja, pois a cada dia mais se afastavam da realidade do Evangelho. Por causa desses erros, a unidade da igreja estava sendo quebrada. E onde estava o erro, ou, qual era o fico do problema? Paulo, como líder, soube ver além das aparências e tratar o problema no seu âmago. No capítulo 13 ele resume o problema dos crentes de Corinto: total falta de amor. A partir do momento que eles trouxessem para dentro de si a realidade do amor de Deus, todos aqueles problemas seriam solucionados. Não adiantaria impedir os profetas que profetizassem ou acabar com a celebração da ceia para resolver a questão. Bastava a prática do que realmente faltava: o amor.


A atitude correta para a mudança

         Se de um lado temos aquilo que denominamos “problema” e por outro lado temos a nossa reação diante deste problema, a nossa primeira atitude deverá ser a de mudar a nossa perspectiva do problema, encarando-o de uma forma mais positiva e construtiva.
         A história de Davi, a qual muito já mencionamos, pode nos dar um exemplo de como um mesmo problema pode ser encarado sob duas perspectivas diferentes. A situação narrada no capítulo 17 de 1 Samuel era apenas uma: os filisteus guerreavam contra Israel, quando surgiu do meio deles um gigante chamado Golias, com aproximadamente 2,92m de altura, armado até os dentes. Ele desafiou o povo de Israel a ir pelejar contra ele, mas “Ouvindo Saul e todo o Israel estas palavras do filisteu, espantaram-se e temeram muito.” (v. 11). Na perspectiva do povo judeu, o problema se agigantava ainda mais, e isso fez com que eles temessem muito. Israel se sentiu impotente diante daquele desafio, incapaz de solucionar a questão.
         Mas quando Davi soube do problema com o gigante filisteu, encarou-o de uma perspectiva totalmente diferente. O gingante já não era tão enorme assim, também não causava tanto medo e pavor. Davi olhou o problema na perspectiva do poder de Deus (v. 26). Mesmo diante de Saul que tentou persuadi-lo a não pelejar contra o gigante por causa da sua mocidade (v. 33), Davi não se deteve e solucionou aquele problema de maneira tremenda, com apenas uma funda em suas mãos adiante de Golias totalmente equipado (vs. 49,50).
         Quando Davi permitiu que o seu pensamento fosse impregnado pelo poder absoluto do Deus de Israel, a sua atitude diante do problema foi diferente da de todo o Israel. Enquanto o povo enxergava uma iminente destruição. Davi via ali uma oportunidade de mostrar a glória de Deus. Ao usar a funda, Davi nos mostrou que a solução pode partir de pequenos gestos, quando esses são feitos na grandeza do poder de Deus. O modo como encaramos o problema é a chave da questão, e não o problema em si.

Uma abordagem equivocada

         No início deste capítulo já abordamos temos relevantes como o “por quê” e o “para quê” do problema, e aprendemos que nossos problemas podem ter uma conotação muito positiva do ponto de vista da operosidade de Deus. Vamos finalizar a questão dos problemas apresentando uma abordagem completamente equivocada cantada e pregada na maioria das denominações.
O cantor Mattos Nascimento retrata bem essa maneira que muitos crentes compreendem e encaram os seus problemas e as soluções para eles. Parece verdade que a maioria dos crentes se desespera muito mais com seus problemas do que muitos que não têm Deus em suas vidas. Duas estrofes de uma de suas canções dizem assim:

“Eu não sei quanto tempo você tem orado
Se tem chorado, eu confesso que não sei
Deus tem te usado e muitos não acreditam
Te perseguem só criticam, mas vai chegar a tua vez.

Irmão dê graças pela luta que te vem
Se Deus te prova é porque te ama também
Quando tu oras toda luta se desfaz
Jesus manda um anjo forte, vem e expulsa Satanás.”

         Mattos Nascimento inicia o hino falando de críticas e perseguições, comuns a todo cristão verdadeiramente piedoso. Isso nos faz lembrar as palavras de Jesus nos sermão do monte, em Mateus 5:11 e 12: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós”. Devemos nos desesperar, orar a Deus que afaste a perseguição, amaldiçoar nossos perseguidores, fazer cultos de libertação? Muito pelo contrário: “Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós”.
         Hoje estive participando de uma aula da escola bíblica dominical de uma congregação da igreja que frequento. O assunto era a “morte”. Um dos pontos da lição dizia que o crente não deve temer a morte, porque ela nos traz as recompensas que o Senhor nos prometeu, segundo o bem ou o mal que tenhamos feito (2 Coríntios 5:10). Logo, a discussão girou em torno do galardão que os crentes recebem pelas suas obras quando chegam ao céu. É interessante notar que o galardão está sempre associado a boas obras, mas aqui o Senhor Jesus associa o sofrimento por causa do Evangelho ao nosso galardão nos céus (cf. Mateus 5:10).
         Podemos nos perguntar: Quantos estão dispostos a aumentar o seu galardão nos céus através do sofrimento, da tribulação, da provação? Temos medo de não fazer boas obras para não perder o galardão, mas não temos medo de deixar de sofrer, sem imaginar que esse sofrimento aumenta o nosso galardão no Reino de Deus.
         A segunda estrofe inicia-se com uma grande verdade: devemos dar graças a Deus diante das provas que passamos, pois elas são destinadas a nos aprovar e demonstram o amor e o cuidado de Deus por nós (Hebreus 12:4-8). Se Deus não nos amasse, se Ele não se importasse conosco, não nos corrigiria, não nos envolveria em situações onde a nossa fé é constantemente provada. Mas pelo fato de Ele nos amar tanto, o seu desejo é o nosso crescimento na fé, a nossa maturidade espiritual. Muitos cristãos querem ser uma pedra preciosa para Deus, mas sem desejar passar pelo duro processo de lapidação.
         Nos dois versos seguintes da segunda estrofe, Mattos Nascimento faz cair por terra tudo o que estava cantado até então. Em primeiro lugar, ele diz que a oração coloca fim a toda luta do cristão, o que é uma mentira e um erro teológico tremendo. Quantas vezes Jesus orou para deixar de ser perseguido e ameaçado de morte o tempo todo? A única vez que encontramos Jesus orando para ser poupado do sofrimento é no Getsêmane, mas ainda assim ele permitiu que a vontade de Deus fosse feita, e não a dele.
         E o que dizer do espinho da carne de Paulo? Por três vezes ele orou pedindo a Deus que lhe fosse afastado esse espinho, mas Deus não o atendeu, apenas disse: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (2 Coríntios 12:7-10). E por amor a Cristo, Paulo sentia prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias (v. 10). Como já vimos, mesmo depois de perseguido e açoitado, Paulo encontrava forças para animar os irmãos a jamais desistirem da fé (Atos 14:22).
         Ora, se devemos dar graças a Deus pelas lutas que nos sobrevém, destinadas a nos provar e aperfeiçoar, porque devemos orar a Deus para que elas se desfaçam? Ao contrário disso, a Palavra de Deus nos motiva a encarar os nossos problemas de uma maneira positiva, enxergando as bênçãos que se escondem por detrás deles. Com isso não queremos dizer que devemos nos acomodar, permitir que os problemas nos dominem sem jamais lutar. Pelo contrário, devemos lutar sim, mas aproveitando os problemas para crescer, entendendo todas as lições que eles querem nos passar.
         No mundo passaremos aflições (João 16:33), mas devemos ser alegres (Tiago 1:2) e pacientes (Romanos 12:2). Mas este hino reflete bem a atitude de muitos cristãos diante dos seus problemas, querendo que Deus resolva tudo, abrindo mão da responsabilidade pelo que está acontecendo. Esperamos sempre um milagre de Deus para nossas crises, mas não queremos enxergar a crise positivamente, arrancando dela todas as lições que o Senhor tem para nos ensinar enquanto damos os passos necessários para sair dela. É no momento da crise que Deus molda o nosso caráter.
         Deus deseja fazer o impossível por nós. Mas naquilo que é possível, que podemos resolver com todos os dons, talentos e habilidades naturais que Ele nos deu, ele não fará nada. Se não fosse assim, bastava apenas orar e a fome do mundo cessaria, o câncer e a AIDS desapareceriam, não haveria mais violência, drogas e prostituição.
         Para incrementar essa abordagem equivocada dos problemas e da nossa atitude diante deles, Mattos Nascimento canta que “Jesus manda um anjo forte, vem e expulsa Satanás.” Podemos entender que Deus “terceiriza” a solução para as nossas crises. Segundo esse cantor, a resolução dos nossos problemas não está na nossa mudança de atitude, no arrependimento, em um compromisso maior com Deus, numa vida mais intensa de oração, no trabalho árduo, na fé que opera em conjunto com as obras, na nossa disposição de nos ajudar uns aos outros, mas nas mãos dos anjos. Não precisamos fazer nada por nós mesmos, pois os operários celestiais farão o que for preciso para garantir o nosso sucesso. Será?
         É certo que “o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra.” (Salmo 34:7); também é certo que os anjos são “espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação.” (Hebreus 1:14). No Antigo Testamento, os anjos tiveram um papel importante na vida do povo de Deus: “Feriram os egípcios; foram usados na promulgação da lei no monte Sinai; assistiram os israelitas durante sua peregrinação; destruíram seus inimigos; e acamparam ao redor do povo de Deus em sua defesa nos momentos de perigo.” (Charles Hodge, pg. 476). Eles também estiveram presentes predizendo e celebrando o nascimento de Jesus (Mateus 1:20; Lucas 1:11), na sua tentação e sofrimentos (Mateus 4:11; Lucas 22:43), no anuncio da sua ressurreição e ascensão aos céus (Mateus 28:2; João 20:12; Atos 1:10,11).
         Os apóstolos e depois o apóstolo Pedro puderam escapar da prisão através da intervenção de Deus com o auxílio de um anjo (Atos 5:19; 12:11). Estes e muitos outros textos nos mostram anjos ministrando na vida dos discípulos, mas não nos dão a entender que esses seres celestiais resolverão todos os nossos problemas. Porque nenhum anjo livrou Paulo dos açoites e de um naufrágio? Por que a igreja perseguida não orou a Deus que um anjo viesse livrá-la da sua tribulação e da boca dos leões na arena do Coliseu?
Os anjos acampam-se ao nosso redor, nos dão livramento e pelejam conosco contra as forças do mal. Mas mesmo nessa batalha espiritual, da qual muitos crentes fazem de tudo para fugir, não são os anjos que intervém, não é um milagre de Deus que nos dá a vitória, mas a nossa atitude de nos revestir da armadura de Deus. Ao lermos Efésios 6:10-20, encontramos vários imperativos: sede (v. 10), revesti-vos (v. 11), tomai (v. 13, 17), estai (v. 14), calçai (v. 15). Todos esses imperativos nos impelem a uma ação, a tomar uma atitude. Deus nos oferece as armas necessárias para resistirmos ao diabo e vencermos no dia mau (v. 13). Ele nos chama a lutar, não a cruzar os braços e esperar que anjos com espadas de fogo façam aquilo que compete a nós.
E completando a sucessão de equívocos, o hino de Mattos Nascimento diz que a função desse anjo forte é expulsar a Satanás, sendo este fato relacionado ao problema que vinha cantando. Ora, afinal, de onde vêm essas lutas cantadas nesses versos: de Deus, como uma prova do seu amor, ou de Satanás? Essa tendência de jogar a culpa no diabo por todas as nossas lutas e problemas é perigosa e antibíblica. Não podemos procurar bodes expiatórios para as nossas crises, principalmente quando temos plena convicção de que elas são, em sua grande parte, culpa do nosso próprio pecado. O diabo lança o anzol, mas cabe a nós morder ou não a sua isca.
Antes mesmo de Satanás colocar no coração de Judas o desejo de trair Jesus, aquele discípulo já mostrava ter um caráter duvidoso, roubando o dinheiro que era colocado na bolsa que carregava (João 12:26). A ganância estava ali presente, o diabo apenas se utilizou deste artifício para encher o coração dele. E em troca de quê Judas traiu Jesus? De dinheiro! (Mateus 26:15).

Novamente o problema do problema

         Voltamos a dizer que o problema não está no problema em si, mas na maneira como o enxergamos e lidamos com ele. Da mesma forma, a solução dependerá da nossa capacidade de ter uma visão clara da realidade do problema. Antes de encontrarmos os culpados por aquilo que estamos passando, devemos nos perguntar qual a nossa parcela de responsabilidade. Antes de implementarmos qualquer solução para as nossas crises, devemos ter certeza de que não estamos querendo fugir dos nossos problemas, queimar as etapas do nosso crescimento como cristãos e como líderes na obra do Senhor.
         O líder eficaz deve auxiliar os seus colaboradores na compreensão dos seus problemas, enfatizando que esses problemas podem e devem ser resolvidos, jamais evitados ou tratados como uma maldição, a não ser que provenham de pecado. Existe um processo para a solução que não é algo mágico, não tem a intervenção de anjos com espadas de fogo, não conta com os céus se abrindo e as montanhas se movendo, mas apenas com as nossas atitudes de fé e esperança no Deus do impossível.
         O líder deve estar sempre presente, colocando a mão no arado junto com seus colaboradores, aproveitando cada crise para fomentar o crescimento e a maturidade do corpo. Quando os primeiros dentes de uma criança estão nascendo, ela sente dor e incômodo. Sem esse processo, os dentes não podem nascer e crescer. Eles precisam romper a barreira da carne, fincar suas raízes, abrir espaço. A dor pode estar presente, mas é necessária. No final, um lindo sorriso se abrirá.

MIZAEL XAVIER

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